Filho de peixe… rejeitado é?

No texto anterior discutimos a síndrome da donzela em apuros, um dos clichês mais utilizados em romances femininos. Dito isso, agora chegou a vez deles: os “mocinhos” da história.
     A ideia deste post é apresentar o outro lado da moeda, o outro clichê que parece estar em alta nos romances, principalmente os de época: “daddy issues”, isto é, problemas com a figura paternal. E para isso vamos resenhar sobre três livros: O Duque e eu (de Julia Quinn), Romance com o Duque (de Tessa Dare) e O príncipe dos canalhas (de Loretta Chase). [ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!]
     Nosso foco aqui não são mais as donzelas virgens, mas seus príncipes (não tão) encantados. E verdade seja dita: as mocinhas dessas histórias são bem mais interessantes e progressistas, ainda mais se considerarmos o contexto de época em que a história se passa.
     Nos livros acima o príncipe, ou melhor, os dois duques e o marquês, respectivamente, tornaram-se os libertinos contrários à ideia de casamento devido à rejeição paternal. Um enredo que deixaria Freud orgulhoso, se seu principal “problema” não fosse com a histeria feminina.
     Além disso, todos os mocinhos ~contém ironia~ possuem algum tipo de “defeito” que os fazem acreditar que não merecem os olhares de desejo femininos. Em O Duque e eu, Simon Basset era gago quando criança e sua gagueira reaparece quando ele fica nervoso. Em Romance com o Duque, Ranson William possui uma cicatriz no rosto, resultado de um duelo que o cegou quase completamente.
     E, finalmente, em O príncipe dos canalhas, Sebastian Ballister é descendente de mãe italiana (que o deixou quando pequeno com o pai para fugir com o amante; agora sim Freud aprovaria!) e herdou dela sua pele morena e nariz adunco. Sim, ter pele negra é, aos olhos do marquês, um defeito… Não vou nem entrar nesse mérito, porque é de uma estupidez sem tamanho. Enfim, soma-se esses “defeitos” com a rejeição paternal e VOILÀ: temos uma criança (rica!) traumatizada que se transforma num adulto libertino. Tudo a ver… #sqn 😑
     De todo modo, confesso que gostei muito mais da leitura desses livros do que os do post anterior. Não dá pra ler soft porn esperando uma bela crítica social, mas também não vamos passar pano em clichês, né nom? E como nem tudo são críticas, adianto logo que desses três livros o que eu mais gostei, por uma margem quase ínfima, foi O Duque e eu, apesar da cena bizarra de estupro masculino (sim, sexo não consensual é estupro, independentemente de gênero ou estado civil). Taí… até no elogio tem crítica! rs
     Talvez mais para frente possamos enveredar num post sério sobre construção identitária para demonstrarmos como funciona a influência parental sobre os indivíduos (que é algo considerável, mas certamente não é ÚNICA influência moduladora), mas por ora os romances femininos não estão preparados para essa conversa.

CLASSIFICAÇÃO DOS LIVROS:
O Duque e eu ★ ★ ★ ✩ ✩
Romance com o Duque ★ ★ ★ ✩ ✩
O príncipe dos canalhas ★ ★ ★ ✩ ✩

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