Sobre segundas chances…

Em tempos de quarentena fica mais fácil dizer “não compre um livro pela capa” e acreditar de coração que somos leitores iluminados, dotados de grande discernimento intelectual, acima do bem e do… marketing. rs! Mas em condições normais de temperatura e pressão (ou seja, andando pelas ruas do Centro e “acidentalmente” tropeçando para dentro de um sebo e/ou livraria e saindo de lá umas 3h depois) atire a primeira pedra quem nunca se apaixonou à primeira vista por um livro, principalmente quando a edição é de capa dura? Impossível!
     E foi assim que acabei comprando O homem de giz, livro de estreia da autora C.J. Tudor. Tudo começou na internet, com os posts maravilhosos de divulgação da Editora Intrínseca, e é claro que o fato de ser um thriller, com um texto intrigante na contracapa e um apelo comercial aos fãs de Stranger Things e Stephen King, também ajudou. Mas quando entrei na livraria e vi aquela belíssima edição de capa dura – com páginas claras e escuras e um excelente projeto gráfico – foi amor à primeira vista… Até o momento crucial: a leitura.
     Não vou dizer que detestei o livro, até porque ainda não odiei nenhum thriller que tenha lido até hoje, mas definitivamente ele foi merecedor da nota 3⭐ que lhe dei: completamente esquecível. Para vocês terem uma noção: eu não lembro quem desenhava os homens de giz, acreditam? É sério! Se quiserem me dar um spoiler (que não seria tecnicamente um spoiler já que eu já li rs!) fiquem à vontade. É claro que me recordo do episódio da igreja e do final da história principal, mas as secundárias (tão importantes quanto) são um branco completo na minha memória.
     Mas eis que veio a redenção: O que aconteceu com Annie, segundo livro da autora. A princípio parecia um déjà-vu: os posts de divulgação, a contracapa com gostinho de quero mais, a edição de capa dura, o projeto gráfico… Só que já não se tratava de uma autora iniciante, eu já havia lido seu primeiro livro e apesar de não ter curtido tanto, fui vencida pela minha curiosidade e resolvi dar uma segunda chance (um dia ainda vou escrever sobre o poder do marketing sobre as nossas escolhas, aparentemente ~racionais~).
     E para o bem de todos e felicidade geral da nação a aposta valeu a pena. O que aconteceu com Annie entrega tudo que O homem de giz ficou devendo: um verdadeiro thriller com toques de terror/sobrenatural.
     A dinâmica do livro é a mesma do anterior, alternando entre passado e presente, mas a escrita e o desenrolar da história são muito mais maduros e sem um quê de “embromation” que senti ao ler O homem de giz. Por não se tratar mais de uma autora desconhecida do público e, talvez, com isso não precisar mais se espelhar em alguém como Stephen King para ter o devido reconhecimento, a autora tenha sentido mais confiança em seu próprio estilo de narrativa e isso fez toda a diferença, na minha humilde opinião.
     Outra coisa que a autora ousou em abordar foi o toque sobrenatural, o que foi fantástico. Considero esse livro um exemplo perfeito de como dar um quê de terror à história sem se enveredar em explicações que não cabem à narrativa. O livro não deixa nenhuma ponta solta ao mesmo tempo em que deixa a cargo do leitor teorizar sobre as origens desse viés sobrenatural. Definitivamente, uma nota 4⭐ bem merecida. (Vejam só a diferença que um ponto faz na média, né nom? 😉)
     E por último, mas não menos importante, outro destaque digno de nota deste livro são as referências! EU ADOOORO UMA REFERÊNCIA! 💟

     O parágrafo acima encontra-se na página 97. Lido fora de contexto não possui nada de mais e, certamente, nenhum alívio cômico (muito pelo contrário!), mas para aqueles que leram O homem de giz este trecho traz um sorriso ao canto dos lábios. Ou no meu caso uma gargalhada totalmente descontrolada, seguida de um apontar de dedo para o livro dizendo: “Aha! Eu sei o que você fez aqui!” (Sim, tenho um parafuso solto e um senso de humor bem estranho, mas entendi a referência e isso é tudo que posso dizer sem soltar o maior spoiler de O homem de giz.)
     Por fim, só gostaria de acrescentar que se você gostou de O homem de giz, creio então que vai adorar O que aconteceu com Annie; e se você, assim como eu, achou o primeiro livro de C.J. Tudor apenas razoável, dê uma chance ao segundo. Às vezes segundas chances são verdadeiros milagres, e às vezes são outra coisa bem diferente… como Annie. #referências (muaaahahaha *risada sombria*)

CLASSIFICAÇÃO DOS LIVROS:
O homem de giz ★ ★ ★ ✩ ✩
O que aconteceu com Annie ★ ★ ★ ★

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